quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Geraldo Vandré: De rei a trapo em 58 dias


Postado por: Náufrago da Utopia

"Ele foi um rei, e brincou com a sorte
Hoje ele é nada, e retrata a morte
Ele foi um rei, e brincou com a sorte
Hoje ele é nada, e retrata a morte

Ele passou por mim, mudo e entristecido
Eu quis gritar seu nome, não pude
Ele olhou pra parede, disse coisas lindas
Disse um poema pr'um poste, me veio lágrimas

O que fizeram com ele? Não sei
Só sei que esse trapo, esse homem foi um rei
O que fizeram com ele? Não sei
Só sei que esse trapo, esse homem foi um rei"
("Tributo A Um Rei Esquecido", Benito Di Paula)

Ainda sobre o enigma Geraldo Vandré, eis mais elementos para corroborar minha tese de que, a despeito de tudo que haja sofrido antes de deixar o País do AI-5, sua transformação de rei em trapo se deu na volta para o Brasil, quando a ditadura dele se apossou em 14/07/1973 e só o liberou em 11/09/1973, anunciando então sua chegada como se tivesse acabado de desembarcar.

Eis duas declarações de 2004, em entrevista que Vandré então concedeu a Ricardo Anísio, do Jornal do Norte:
"...eu voltei [do exílio] doente e meio perdido em meu país, quando justamente os militares me acolheram (!) e me deram tratamento médico (!!), e me alojaram (!!!)".

"... havia escrito a canção ["Fabiana"] porque sempre fui um apaixonado por aviões. Agora, a minha relação com as Forças Armadas hoje, é de muito respeito mútuo (!). Eles me tratam com dedicação (!!) e sabem das minhas questões existenciais (!!!)".


Na verdade, Vandré foi mas é internado numa clínica psiquiátrica e, em depoimento que li na internet, uma companheira que também estava lá relatou que ele se encontrava sob vigilância de agentes da ditadura, impedido de falar com os outros pacientes.

Há também referências a uma internação em 1974, numa clínica do bairro de Botafogo (RJ), depois de uma crise de nervos durante a qual teria ameaçado esfaquear a irmã.

Mas é a do ano anterior que realmente importa. Pode-se dizer que se constituiu num divisor de águas. Vandré era um antes e se tornou outro depois.

Vale citar o Timothy Leary, aquele mesmo do LSD, que foi também uma das mais respeitadas autoridades científicas no estudo das lavagens cerebrais:
"O trabalho de lavagem cerebral é relativamente simples, consistindo basicamente na troca de alguns circuitos robóticos por outros. Assim que a vítima passa a encarar o reprogramador como a criança encara seus pais - fornecedores de segurança vital e de apoio para o ego - qualquer nova ideologia pode ser inculcada no cérebro.

"Durante o estágio de vulnerabilidade, qualquer pessoa pode ser convertida a qualquer sistema de valores. Facilmente podemos ser induzidos a entoar 'Hare Krishna, Hare Krishna' como 'Jesus morreu por nós', ou a bradar 'abaixo o Vaticano', aceitando plenamente as ideologias que estão por trás desses temas".
Fragilizado por tudo que sofrera, incluindo problemas com drogas, Vandré pode muito bem ter, naqueles suspeitíssimos 58 dias, sido induzido a bradar "viva a FAB", retratando a morte.

Enquanto não soubermos no que realmente consistiu o tal tratamento médico proporcionado pelos militares quando acolheram e alojaram o Vandré, não poderemos, em sã consciência, descartar a hipótese de lavagem cerebral.

Com a palavra, os jornalistas investigativos e os historiadores

por Celso Lungaretti

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