segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Maior Flor do Mundo - José Saramago

Uma pequena homenagem ao extraordinário José Saramago



A Maior Flor do Mundo from Fundação Jose Saramago on Vimeo.

“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”

"Eu não escrevo para agradar ou para desagradar, escrevo para perturbar"
José Saramago

Informações sobre o filme:
Curta-metragem de animação baseada no livro A Maior Flor do Mundo, de José Saramago
De Juan Pablo Etcheverry, com música de Emilio Aragón
Produção de Continental Animación

Luz é Amor
Amor é Luz
Mara

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Rachel Corrie: A Menina e o seu Sonho


Postado por: Universae
O navio irlandês que levava ajuda humanitária a Gaza e foi interceptado pelas forças armadas israelenses foi batizado de Rachel Corrie; porém, quem foi Rachel Corrie?

Pouco se sabe sobre essa jovem pacifista cuja coragem e caráter são admiráveis.

Essa escassez de informações sobre Rachel talvez se deva ao fato de que ela era um tipo de pessoa que incomoda aos opressores, pois arrisca a sua própria vida em defesa dos oprimidos.

Este amor ao próximo assusta ao poder.

A foto acima é emblemática: um olhar sério, firme, seco, direto em seus propósitos e ao mesmo tempo terno.

Rachel Aliene Corrie nasceu em 10 de abril de 1979 na cidade de Olympia no estado de Washington. Rachel era universitária e pertencia ao Movimento pela Justiça e Paz.

Ela organizou iniciativas em memória das vítimas do onze de setembro (por ocasião do aniversário do atentado) e também da guerra no Afeganistão.

Posteriormente, Rachel viajou para Israel onde se juntou a um grupo chamado Movimento Internacional de Solidariedade.

Esta associação era formada por uma rede de ativistas pacifístas de várias nacionalidades que tentavam agir como escudo humano contra as atrocidades cometidas por Sharon nos territórios ocupados.

Uma dessas ações se ocupava de tentar bloquear, sempre de forma pacífica, os temíveis Buldozers (Escavadeira blindada tipo tanque usada por Israel para derrubar as casas de famílias palestinas. Mesmo com elas vivas lá dentro!).

Em 16 de Março de 2003, em uma ação em Rafah (fronteira de Gaza), Rachel encontrava-se juntamente com seus amigos para se opor às demolições usando apenas um megafone.

Foi quando um Buldozer jogou terra sobre ela e avançou esmagando o seu corpo e a matando na hora. Rachel subestimou o barbarismo do inimigo.

O comandante da unidade que procedia a derrubada das casas ordenou aos soldados que dirigiam os Buldozers "QUE PASSASSEM POR CIMA DE QUEM ESTIVESSE NO CAMINHO".

Estas ordens partiram diretamente de Jerusalém (fato comprovado por posterior testemunho do capitão Uri Avner, que pediu baixa do exército israelense após o caso).

E foi o que aconteceu:
Rachel, postada à frente da escavadeira numa tentativa desesperada de detê-la; morreu, esmagada pelo monstro mecânico que avançou sem piedade, não dando a menor chance dela escapar a tempo.

Relatos de testemunhas:

“Ela estava sentada na trajetória de um Buldozer, o condutor a viu e mesmo assim passou sobre ela” declarou Joseph Smith, militante pacifista americano.

“A escavadeira jogou-lhe terra por cima e depois a esmagou” disse Nicholas Dure, outro companheiro.

O exército de Israel e seus apologistas cuidaram de abafar o caso, que foi distorcido pela mídia local e pela dos EUA, tratando o crime como "imprudência de uma irresponsável defendendo um ninho de terroristas".

Mas a família e vizinhos do agricultor Hassan Din Daud, cuja casa foi afinal derrubada, e os demais ativistas presentes trataram de divulgar a verdade.

Este foi um assassinato a sangue-frio, mostrando a que ponto chegam os opressores do povo palestino mesmo contra opositores desarmados (Rachel portava apenas um megafone) e não-violentos.

O próprio governo americano se omitiu, e hoje a família Corrie busca justiça para sua filha até nas cortes internacionais de Direitos Humanos, numa tentativa incansável de obter justiça.

Rachel Corrie, de apenas 23 anos, perdeu a vida quando defendia com o seu próprio corpo as suas idéias, o seu ideal de justiça, o direito e a liberdade aos oprimidos e também o direito dos cidadãos palestinos de terem um pouco de terra.

As autoridades de Israel deram diferentes versões do acontecido, todas elas desmentindo a documentação fotográfica e os testemunhos.

Rachel e os seus companheiros denunciaram que dia após dia dezenas de casas eram destruídas na fronteira de Gaza (um total de 3.000), e que os bombardeios destruíram os poços de água que irrigavam os campos de refugiados de Rafah, não sendo possível repará-los pelos trabalhadores palestinos, pois estes estariam expostos às balas dos soldados de Israel.

Aos 10 anos de idade, Rachel deu uma pequena amostra do espírito extraordinário que ela possuía.

Veja o vídeo abaixo:


“Eu estou aqui por outras crianças
Eu estou aqui porque eu me importo!
Eu estou aqui porque as crianças em toda parte do mundo estão sofrendo e porque quarenta mil pessoas morrem a cada dia de fome.
Eu estou aqui porque essas pessoas são em sua maior parte de crianças.
Nós temos que entender que existem pobres e eles estão a nossa volta e nós os estamos ignorando.
Nós temos que entender que estas mortes são evitáveis.
Nós temos que entender que os povos nos países do terceiro mundo pensam, se importam, sorriem e choram como nós.
Nós temos que entender que eles sonham os nossos sonhos e nós sonhamos os deles.
Nós temos que entender que eles são como nós. Nós somos como eles.
Meu sonho é que não haja mais fome no ano 2000.
Meu sonho é salvar estas quarenta mil pessoas que morrem todos os dias.
Meu sonho pode ser verdadeiro se todos nós olharmos para o futuro e levarmos uma luz para brilhar lá. Se ignorarmos a fome, essa luz se apagará.”

O governo de Israel tem sistematicamente cometido crimes hediondos contra a pessoa humana sob o olhar complacente da ONU, dos países europeus e dos Estados Unidos. Por quê?

É bom lembrar aos que chamam de anti-semitas todos aqueles que criticam e acusam o governo e a política de Israel de criminosa, que pessoas corajosas e humanitárias como Rachel Corrie salvaram milhares de judeus da morte durante a 2ª guerra.

Aquela mesma morte nefasta, brutal, hedionda e covarde que foi aplicada pelos nazistas contra o povo judeu; hoje é imposta pelo governo israelense ao povo palestino.

Pessoas de diversas nacionalidades, religiões, histórias e culturas se importam com a vida humana e lutam em favor dos oprimidos.

Rachel Corrie era uma jovem que se importava e os seus sonhos eram de um incondicional amor ao próximo!

Luz é Amor
Amor é Luz
Mara


Vídeos relacionados:

Sites relacionados a Rachel Corrie:

As informações e o texto foram extraídos em sua maior parte nos sites:

Imagens:

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terça-feira, 8 de junho de 2010

Israel: Noam Chomsky


Noam Chomsky
Do The New York Times

O ataque violento de Israel à Flotilha da Liberdade que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza chocou o mundo.

Sequestrar barcos em águas internacionais e matar passageiros é, com certeza, um crime grave. Mas o crime não é nada novo.

Há décadas, Israel vem sequestrando barcos entre o Chipre e o Líbano e matando ou sequestrando passageiros, algumas vezes mantendo-os como reféns em prisões israelenses.

Israel supõe que pode cometer tais crimes com impunidade porque os Estados Unidos os toleram e a Europa geralmente segue a direção dos EUA.

Como os editores do The Guardian muito bem observaram em 1º de junho, "se ontem um grupo armado de piratas somalis tivesse entrado em seis barcos em alto mar, matando pelo menos 10 passageiros e ferindo muitos outros, uma força-tarefa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estaria se dirigindo hoje para a costa somali".

Nesse caso, o tratado da Otan determina que seus membros prestem ajuda a um país companheiro na Otan - a Turquia - atacado em alto mar.

O pretexto de Israel para o ataque foi que a Flotilha da Liberdade estava transportando materiais que o Hamas poderia usar para construir bunkers e lançar foguetes contra Israel.

O pretexto não é crível, Israel pode facilmente colocar um fim na ameaça dos foguetes por meios pacíficos.

O contexto histórico é importante. O Hamas foi considerado uma maior ameaça terrorista quando venceu uma eleição livre em janeiro de 2006. Os Estados Unidos e Israel reforçaram suas punições de palestinos, agora pelo crime de votarem da forma errada.

O cerco a Gaza, incluindo um bloqueio naval, foi uma consequência. O cerco se intensificou acentuadamente em junho de 2007, depois que uma guerra civil colocou o Hamas no controle do território.

O que é comumente descrito com um golpe militar do Hamas foi, na verdade, incitado pelos Estados Unidos e por Israel, em uma rude tentativa de reverter as eleições que tinham levado o Hamas ao poder.

Isso é de conhecimento público desde pelo menos abril de 2008, quando David Rose relatou na Vanity Fair que George W. Bush, a conselheira de Segurança Nacional Condoleezza Rice e seu vice, Elliott Abrams, "apoiaram uma força armada sob o comando do homem forte do Fatah Muhammad Dahlan, desencadeando uma sangrenta guerra civil em Gaza e deixando o Hamas mais forte do que nunca". O terror do Hamas incluía lançar foguetes nas cidades israelenses próximas - ato criminoso, sem dúvida, embora seja apenas uma minúscula fração dos crimes rotineiros dos Estados Unidos e de Israel em Gaza.

Em junho de 2008, Israel e o Hamas firmaram um acordo de cessar-fogo. O governo israelense o reconheceu formalmente até que Israel quebrou o acordo em 4 de novembro daquele ano, invadindo Gaza e matando meia dúzia de ativistas do Hamas. O Hamas não disparou um único foguete.

O Hamas propôs renovar o cessar-fogo. O gabinete israelense avaliou a oferta e a rejeitou, preferindo lançar sua invasão assassina de Gaza em 27 de dezembro.

Assim como outros estados, Israel tem o direito à autodefesa. Mas Israel tinha o direito de usar a força em Gaza em nome da autodefesa? A lei internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas, não apresenta ambiguidades: uma nação tem esse direito apenas se esgotou os meios pacíficos. Neste caso, tais meios não foram sequer tentados, embora - ou talvez porque - houvesse todas as razões para se supor que teriam funcionando.

Dessa forma, a invasão foi uma agressão claramente criminosa, e o mesmo pode ser dito sobre Israel ter recorrido à força contra a flotilha.

O cerco é brutal, destinado a manter os animais enjaulados quase mortos com o objetivo de evitar o protesto internacional, mas não mais do que isso. É o último estágio dos antigos planos israelenses, respaldados pelos Estados Unidos, para separar Gaza da Cisjordânia.

A jornalista israelense Amira Hass, uma importante especialista em Gaza, descreve a história do processo de separação: "as restrições ao movimento palestino que Israel introduziu em janeiro de 1991 reverteram um processo iniciado em junho de 1967.

Naquela época - e pela primeira vez desde 1948 -, grande parte da população palestina vivia novamente no território aberto de um único país - sem dúvida, um país que estava ocupado, mas, no entanto, estava inteiro".

Hass conclui: "A separação total da Faixa de Gaza da Cisjordânia é uma das maiores realizações da política israelense, cujo objetivo preponderante é evitar uma solução baseada em decisões e entendimentos internacionais e, em vez disso, ditar um acordo baseado na superioridade militar de Israel".

A Flotilha da Liberdade desafiou essa política e, por isso, deve ser esmagada.
Um esquema para encerrar o conflito árabe-israelense existe desde 1976, quando os países árabes introduziram uma resolução do Conselho de Segurança exigindo o estabelecimento de dois estados na fronteira internacional, incluindo todas as garantias de segurança da Resolução 242 das Nações Unidas, adotada depois da guerra de junho de 1967.

Os princípios essenciais são virtualmente apoiados pelo mundo todo, incluindo a Liga Árabe, a Organização dos Estados Islâmicos (incluindo o Irã) e protagonistas importantes que não são estados, incluindo o Hamas.

Mas os Estados Unidos e Israel lideraram a rejeição a esse arranjo por três décadas, com uma exceção crucial e altamente instrutiva. Em seu último mês no cargo, em janeiro de 2001, o presidente Bill Clinton iniciou em Taba, no Egito, as negociações entre israelenses e palestinos, que quase chegaram a um acordo, anunciaram os participantes, até que Israel encerrou as negociações.
Hoje, o legado cruel de uma paz fracassada continua a existir.

O cumprimento da lei internacional não pode ser exigido contra os estados poderosos, a menos que por seus próprios cidadãos. Isso é sempre uma tarefa difícil, particularmente quando a opinião articulada declara que o crime seja legitimado, seja explicitamente ou por meio da adoção tácita de um sistema criminal - o que é mais insidioso, porque torna os crimes invisíveis.


Noam Chomsky é professor emérito de lingüística e filosofia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge, Massachusetts. Artigo distribuído pelo The New York Times Syndicate.

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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Gaza - Operação Chumbo Impune


Para se justificar, o terrorismo do Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Sequer tem o direito de escolher seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são punidos. Gaza está sendo punida. Converteu-se em uma ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou de forma justa as eleições no ano de 2006. Algo semelhante ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista ganhou as eleições em El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submetidos às ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência, os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com pouca pontaria sobre as terras que eram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficiente guerra de extermínio vem negando, há anos, o direito à existência da Palestina.

Pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel a está exterminando do mapa.

Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão consertando a fronteira. As balas consagram os restos mortais, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que esta invadisse à Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que este invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina e, os almoços seguem. A comilança se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico gerado pelos palestinos na espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, e que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que zomba do direito internacional, e é também o único país que legalizou a tortura dos prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não poderia bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico poderia devastar a Irlanda para liquidar ao IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provêm da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional dos seus servos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam-se os milhares de mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humando, que a indústria militar está testando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. A cada cem palestinos mortos, há um israelense.

Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos chamam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos chamam a crer que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que devastou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional, existe?

É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os EUA se auto denominam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial aparece mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações bombásticas, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam suas mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma que outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século atrás essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti semitas.

Eles estão pagando, com sangue, uma conta alheia.

Eduardo Galeano

Fonte: http://www.tijolaco.com/?p=17274
Nota: Eduardo Hughes Galeano (foto) nasceu em Montevidéu em 3 de setembro de 1940. Ele é jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História

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