terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os 33 - A tragédia que traz reflexões



Não é Deus que confina o homem em minas de ouro e cobre ou em buracos subterrâneos (do corpo, da mente e do espírito), mas sim a sua própria vontade?

A busca desenfreada pelo mundo material (o "Ter" e não o "Ser") não tem limites!

Esta tragédia traz uma reflexão para a humanidade

Nós estamos, neste momento, nos sentindo confinados com os braços atados e os olhos bem arregalados diante desta tragédia.

Perguntamos quase que em uma só voz: o que buscamos verdadeiramente nas profundezas da terra?

A Mãe Gaia não confina seus filhos jamais, mas guarda em seu útero um próximo viver.

Um pássaro (a Fênix) faz revoadas sobre os escombros e traz a notícia tão esperada:

Uma profunda reflexão de tantos acidentes acontecendo no útero da terra.
Assim como a ferida que jorrou o sangue (petróleo) por meses no mar do Caribe.

A Mãe Gaia chora pelos seus filhos, mas nos dá a lição de quem como mãe nos educa severamente.

Trinta e três é um número bastante simbólico.

O nome da mina é San Jose, portanto o nome a quem estes homens talvez devam tanta fé, perseverança e esperança!

Trecho do Salmo 40 - Lido aos 33 mineiros:

Esperei anciosamente por Javé.

Ele se inclinou para mim, e ouviu o meu grito.

Fez-me subir da cova fatal e do brejo lodoso.

Colocou os meus pés sobre a rocha e firmou os meus passos.

Pôs em minha boca um cântico novo, um louvor ao nosso Deus.

Vendo isso, muitos irão temer, e confiarão em Javé.

Luz é Amor
Amor é Luz
Mara

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João de Deus - Abadiânia GO



"Eu ouvi e olhei com os olhos abertos.
Verti minha alma no mundo buscando o desconhecido no conhecido.
E canto em altos brados em meu assombro."
Rabindranath Tagore, místico, poeta indiano (1861 - 1941)

As marquises do tempo aceleraram-se nos três dias que estive com João de Deus e Chico Xavier!

Uma alegria imensa como colher flores no campo, como beber água na fonte cristalina ou como dormir sob o olhar das estrelas!

O silêncio de puro ouro trouxe-me torturas aos pensamentos por decisões e ações a serem concluídas; mas escutava a voz da sabedoria dos enviados da Luz que como guirlandas dançavam sobre nossas cabeças.

Hora após hora o céu se abria para derramar pétalas de águas cristalinas de palavras Sagradas que saíam da boca dos Anjos.

Eu ali sentada sobre os bancos azuis feito de tijolinhos de céu, senti todo o meu Ser elevar-se acima de qualquer angústia ou pensamentos que não fossem de uma profunda entrega.

O tempo não existe quando estamos em "Abadiânia", pois esta sobre uma grande e linda Drusa de Cristal, e as mandalas de energia que vibram na atmosfera são fótons de pura Luz.

Uma profunda alegria persegue todos que por lá andam; respeito, altruísmo, caridade e fé são a ordem do dia. Todos caminham vestidos de um branco sem fim, mais parece um jardim de lírios e margaridas que balançam sob o vento!

Um mundo paralelo desponta em formas geométricas, no ar o perfume das rosas e a claridade do dia não deixa a noite chegar tão cedo!

O céu? Ah! O céu de Abadiânia emenda na colina das mandalas. Quando chega a noite com a lua cheia pousando nos galhos das árvores, o cenário mais parece um sonho, pois ficamos com os corpos eletrizados de tantas mandalas disputando todo o espaço possível!

"João de Deus"...um rio corre dos seus olhos, tão azuis que são quase transparentes. Da sua pele caem gotas de energia em fios de cura e a sua voz é um canto de respostas de alegria e contentamento, esperança e fé.

Obrigada "João de Deus" por emprestar suas vestes para os anjos desfiarem em ramos que transformam em remédios para toda cura!

Obrigada por nos ensinar tanto Amor!

Luz é Amor
Amor é Luz
Mara

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Teresa de Calcutá - 100 Anos



"O senhor não daria banho em um leproso nem por um milhão de dólares? Eu também não. Só por amor se pode dar banho em um leproso"
Agnes Gonxha Bojaxhiu (Madre Teresa de Calcutá)
26/08/1910 - 05/09/1997
Luz é Amor
Amor é Luz
Mara

Vídeo: Nachtwaker

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Uma Mensagem a Todos Nós



Vídeo: Nossa Função

Luz é Amor
Amor é Luz
Mara

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fidel pede a Obama que evite a guerra nuclear


Fidel disse que Obama tem a única oportunidade real de paz no mundo

No último dia 3 de agosto, Fidel Castro escreveu uma carta aberta a Barack Obama, na qual reagiu ao anúncio feito pelo almirante Michael Mullen, chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos EUA, feito três dias antes, de que aquele país tinha pronto um plano de ataque militar ao Irã.

Na carta, Fidel expõe uma situação de conflito global com ameaças sérias à sobrevivência do planeta e conclamou o presidente dos Estados Unidos a conter o iminente desastre, já que “está em suas mãos oferecer à humanidade a única possibilidade real de paz.”

Fidel trata das questões ambientais e se aprofunda no desastre da Bristish Petroleum no Golfo do México para questionar uma sociedade movida pelo consumo que destrói o planeta, e afirma que “evitar a antecipação do apocalipse exige questionar os mitos da modernidade – como mercado, desenvolvimento, estado uninacional -, todos eles baseados na razão instrumental.”

Com diversas fontes de informação, quase todas públicas, Fidel traça um mosaico vertiginoso, que desemboca na questão iraniana e nos riscos que ela traz de uma nova conflagração global de proporções apocalípticas. O líder cubano faz uma escalada de notícias, que no que se refere aos conflitos bélicos começa no dia 29 de julho, quando a Agência France Press (AFP) informa o “jamais imaginado”: Osama Bin Laden era um homem do serviço de inteligência dos EUA. “…Osama Bin Laden aparece nos informes secretos publicados pela Wikileaks como um agente ativo, presente e prestigiado por seus homens na zona afegã-paquistanesa”.

Escreve Fidel: “Era sabido que, na luta dos afegãos contra a ocupação soviética do Afeganistão, Osama cooperou com os EUA, mas o mundo supunha que em sua luta contra a invasão estrangeira, aceitou o apoio dos EUA e da OTAN como uma necessidade e que, uma vez libertado o país, rechaçava a ingerência estrangeira, criando a organização AL Qaeda para combater os EUA.

Muitos países, Cuba entre eles, condenam seus métodos terroristas que não excluem a morte de incontáveis vítimas inocentes.

Qual seria agora a surpresa da opinião mundial ao saber que a Al Qaeda era uma criação do governo americano?

Foi a justificativa para a guerra contra os talibãs no Afeganistão e um dos motivos, entre outros, para a posterior invasão e ocupação do Iraque pelas forças militares dos EUA. Dois países onde milhares de jovens americanos foram mortos e um grande número deles foi mutilado. Entre ambos, mais de 50 mil soldados americanos estão comprometidos por tempo indefinido, e junto a eles, integrantes das unidades da organização bélica da OTAN e outros aliados, como Austrália e Coréia do Sul.”

No dia 29 de julho, prossegue Fidel, “foi publicada a foto de um jovem americano de 22 anos, Bradley Manning, analista de inteligência, que entregou ao site Wikileaks 240 mil documentos secretos. Não foi falado de sua culpa ou inocência. Não poderão lhe tocar um fio entretanto.
Os integrantes da Wikileaks juraram mostrar a verdade ao mundo.”

Em 30 de julho, a AFP publica: “A República Popular da China ‘desaprova as sanções unilaterais’ adotadas pela União Europeia conta o Irã, declarou hoje o porta-voz da chancelaria chinesa, Jiang Yu”. Do mesmo modo, a Rússia protestou energicamente contra as sanções.

Ainda em 30 de julho, outra notícia da AFP informa que o ministro de defesa de Israel declarou: “As sanções que a ONU impôs ao Irã […] não os farão suspender suas atividades de enriquecimento de urânio em busca da bomba atômica.”

Em 1º de agosto, um telegrama da AFP informa que “um alto chefe militar dos Guardiões da Revolução advertiu, hoje, aos EUA, contra um possível ataque ao Irã”.

“Israel não descartou uma ação militar contra o Irã para deter seu programa nuclear”.

“A comunidade internacional, encabeçada por Washington, intensificou recentemente sua pressão sobre o Irã, acusado de tentar obter a arma nuclear com o encobertamento do programa nuclear civil”.

“As afirmações de Javani precederam uma declaração do chefe de estado maior americano, Michael Mullen, que assegurou este domingo que um plano de ataque dos EUA contra o Irã está previsto para impedir que Teerã obtenha a arma nuclear”.

Em 2 de agosto, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad desafiou Obama para um conversa frente a frente, perante os meios de comunicação, para tratar das questões mundiais. “Mas o presidente Ahmadinejad advertiu que o diálogo deverá ser baseado no respeito mútuo”.

“Se acreditam que podem balançar um bastão e nos dizer que devemos aceitar tudo o que dizem, isso não acontecerá. As potências ocidentais ‘não entendem que as coisas mudaram no mundo, acrescentou”.

Fidel afirma que os iranianos declararam que dispararão 100 foguetes contra cada um dos barcos americanos e de Israel que bloquearem o Irã. “De modo que, quando Obama der a ordem de cumprir a Resolução do Conselho de Segurança, estará decretando o naufrágio de todos os navios de guerra americanos naquela zona. Uma decisão tão dramática nunca recaiu sobre nenhum presidente dos EUA. Devo prevê-lo”, escreveu.

Nesse momento, Fidel se dirige diretamente a Obama com o pedido para que evite o conflito:

“O senhor deve saber que está em suas mão oferecer à humanidade a única possibilidade real de paz. Somente em uma ocasião o senhor poderá lançar mão de suas prerrogativas ao dar a ordem de disparar.

É possível que depois, a partir desta traumática experiência, se encontrem soluções que não nos conduzam outra vez a esta apocalíptica situação. Todos em seu país, inclusive seus piores adversários de esquerda ou de direita, com segurança lhe agradecerão, e também o povo dos EUA, que não é em absoluto culpado pela situação criada.

Solicito-lhe que se digne a escutar este apelo que em nome do povo de Cuba transmito-lhe.

Compreendo que não se pode esperar, nem você daria nunca, uma resposta rápida. Pense bem, consulte seus especialistas, peça opinião sobre o assunto a seus mais poderosos aliados e adversários internacionais.

Não me interessam honrarias nem glórias. Faça-o!

O mundo poderá libertar-se realmente das armas nucleares e também das convencionais.

A pior de todas as variantes será a guerra nuclear, que é já virtualmente inevitável.

Evite-a!”

Luz é Amor
Amor é Luz
Mara

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Reportagem em Gaza

Guardian.co.uk
Por Sara Roy, no The Nation

Tradução: Caia Fittipaldi

Estive em Gaza em 2009, minha primeira visita desde último ataque israelense ao território. Fiquei petrificada ante o que vi, em local que conheço muito bem há mais de 25 anos: a terra devastada, em frangalhos, a vida das pessoas tão gravemente ameaçada. Gaza decai sob o peso de uma sempre continuada devastação, incapaz de funcionar normalmente. O vácuo que ameaça de todos os lados vai-se enchendo de desespero e ausências que minam até os raros, últimos atos de resistência e otimismo que ainda encontram alguma via de expressão.

O que mais me impressionou foi a candura desse povo, mais da metade do qual são crianças, e a obscenidade, a indecência, o crime que é aquele tipo de punição coletiva infindável.

Guardian.co.uk
O desmonte, o desmanche da economia e da sociedade em Gaza foram deliberados, resultado de uma política de Estado – conscientemente planejada, implementada e imposta.

Embora a maior parcela de responsabilidade por esse crime caiba a Israel, os EUA e a União Europeia, dentre outros, também são culpados, assim como também é culpada a Autoridade Palestina na Cisjordânia. São todos cúmplices na ruína dessa bela terra. E assim como a desgraça de Gaza foi conscientemente orquestrada, assim também estão sendo conscientemente criados os obstáculos para impedir qualquer recuperação.

Gaza tem longa história de sujeição, que assumiu novas dimensões depois da vitória eleitoral do Hamás, em janeiro de 2006. Imediatamente depois daquelas eleições, Israel e alguns países doadores suspenderam contatos com a Autoridade Palestina; imediatamente depois, a ajuda direta também foi suspensa, e veio o boicote financeiro internacional imposto à Autoridade Palestina. Naquele momento, Israel, que já estava confiscando os impostos e taxas que recolhe mensalmente em nome da Autoridade Palestina e não repassa, efetivamente pôs fim à possibilidade de os habitantes de Gaza trabalharem em Israel; e reduziu drasticamente o comércio externo de Gaza.
Guardian.co.uk
Com a escalada da violência de israelenses e palestinos, que levou à morte de dois soldados israelenses e à captura do soldado Gilad Shalit em junho de 2006, Israel fechou todas as fronteiras de Gaza, autorizando a entrada, exclusivamente, de alguns produtos para finalidades humanitárias, o que marcou o início do sítio, que chega hoje ao 4º ano de duração.

A captura de Shalit precipitou assalto militar massivo de Israel contra Gaza no final de junho de 2006, a chamada “Operação Chuvas de Verão” , que visou especificamente a infraestrutura, para tentar desestabilizar o governo liderado pelo Hamás: foram atacados os prédios públicos, os ministérios da Autoridade Palestina; começaram os racionamentos de combustível, eletricidade, água; e os serviços de esgotos foram reduzidos. Essa operação-guerra quase corpo a corpo, diária, durou até outubro de 2006.

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Em junho de 2007, depois de o Hamás chegar ao poder na Faixa de Gaza (o que aconteceu depois de meses de violência interna e de uma tentativa de golpe do partido Fatah contra o governo do Hamás) e da dissolução do governo de unidade nacional, a Autoridade Palestina efetivamente se partiu em duas: formou-se em Gaza um governo de facto, liderado pelo Hamás – e rejeitado com estardalhaço por Israel e pelo ocidente; e formou-se na Cisjordânia o governo oficialmente reconhecido, liderado pelo presidente Mahmoud Abbas. O boicote contra a Cisjordânia da Autoridade Palestina foi levantado, mas o boicote contra Gaza foi intensificado.

Para aumentar ainda mais a miséria de Gaza, o gabinete de segurança de Israel decidiu, em 19/9/2007, declarar a Faixa “entidade inimiga”, controlada por “organização terrorista”. Depois dessa decisão, Israel impôs novas sanções, entre as quais o banimento quase completo de qualquer comércio, controle absoluto sobre os movimentos de ir e vir da maioria dos gazenses, inclusive dos trabalhadores. No outono de 2008, foram proibidas todas as importações de combustível para Gaza. Essas políticas contribuíram para transformar os habitantes de Gaza, de povo com direitos políticos e nacionais, em “problema humanitário” – casos de pobreza e miséria pelos quais se responsabiliza hoje a comunidade internacional.

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Não bastasse os principais países doadores internacionais, sobretudo os EUA e a União Europeia, terem participado do regime de sanções contra Gaza, eles também privilegiaram a Cisjordânia em seu trabalho programático. As estratégias dos doadores são agora de apoiar e fortalecer a fragmentação e o isolamento da Cisjordânia e da Faixa de Gaza – objetivo político de Israel desde o processo de Oslo – e de dividir os palestinos em duas entidades distintas, oferecendo com prodigalidade para um dos lados, ao mesmo tempo em que o outro lado é privado de tudo e criminalizado.

Esse comportamento dos principais países doadores reflete mudança significativa no modo como veem e abordam o conflito Israel-Palestina: a antiga posição, de oposição à ocupação israelense, está sendo trocada por uma nova posição, de apoio à ocupação e, portanto, de reconhecimento.

É o que se vê na ampla e não criticada aceitação da política colonialista israelense e no aprofundamento da separação de Cisjordânia e Gaza, com completo isolamento de Gaza.

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Essa mudança no modo de pensar dos países doadores também pode ser observada na nenhuma disposição de nenhum desses doadores para confrontar nem a anexação de facto de terras palestinas nem o novo movimento dos israelenses para reformular o conflito – que passa a estar centrado exclusivamente em Gaza… sendo Gaza identificada exclusivamente ao Hamás e, portanto, apresentada como ‘terrorista’ e excluída do mundo ‘civilizado’.

Dentro do paradigma “anexação (da Cisjordânia)/‘terroristização’ (da Faixa de Gaza)” qualquer resistência pelos palestinos, estejam na Cisjordânia ou em Gaza, à ocupação repressiva por Israel, incluindo qualquer tentativa significativa de reativar a vida econômica, são hoje consideradas por Israel e por alguns dos países doadores como movimentos ilegítimos e ilegais.

Nesse contexto o regime de sanções contra Gaza pode ser argumentalmente justificado – regime de sanções que jamais foi mitigado desde o final da guerra. O comércio normal (do qual a microscópica economia de Gaza depende desesperadamente) continua proibido; importações e exportações tradicionais praticamente já sumiram de Gaza. De fato, com pequenas e muito específicas exceções, nenhum material de construção e nenhuma matéria prima entram legalmente na Faixa, desde 14/6/2007. De fato, segundo a Anistia Internacional, apenas 41 caminhões carregados com materiais de construção entraram legalmente em Gaza, entre o fim do ataque israelense em meados de janeiro/2009 e dezembro/2009. Isso, em condições em que o setor industrial de Gaza precisaria de 55 mil caminhões carregados de materiais para reconstruções urgentes e indispe nsáveis. Além disso, no ano que decorreu a partir da proibição, as importações de diesel e gasolina de Israel para Gaza para uso privado ou comercial só foram autorizadas em pequenas quantidades e só em quatro ocasiões (embora a Agência para Socorro Humanitário da ONU [ing. United Nations Relief and Works Agency, UNRWA] receba fornecimento periódico de diesel e petróleo). Em agosto passado, 90% da população de Gaza vivia sob racionamento de eletricidade (cortada por 4-8 horas/dia), e os 10% restantes viviam sem nenhuma eletricidade – realidade que não foi alterada até hoje.

BBC
O bloqueio de Gaza provocou também o colapso praticamente total do setor privado. Pelo menos 95% dos estabelecimentos industriais de Gaza (3.750 empresas) foram destruídas ou forçadas a fechar ao longo dos últimos quatro anos, o que implicou perda de entre 100 mil e 120 mil postos de trabalho. As 5% restantes operam com 20-50% da capacidade. As amplas restrições ao comércio também contribuíram para a erosão continuada do setor agrícola de Gaza – agravada ainda mais pela destruição de 5 mil acres de terra agricultável e 305 poços de irrigação, durante o ataque israelense de dez.-jan.2009. Essas perdas incluem a destruição de 140.965 pés de oliveiras, 136.217 limoeiros, 22.745 outras árvores frutíferas, 10.365 tamareiras e outras 8.822 árvores e arbustos.

As terras antes irrigadas estão hoje secas; e o subsolo, contaminado por esgotos e água salgada, torna os campos praticamente imprestáveis. Inúmeras tentativas, de agricultores de Gaza, para replantar ao longo do ano passado, falharam, quase sempre por causa do esgotamento e da contaminação dos solos, com altos níveis de nitratos. O setor agrícola de Gaza também foi muito duramente prejudicado pela zona ‘neutra’ criada por Israel no norte e a leste de Gaza (e pelo Egito, na fronteira sul), exatamente onde estão as terras mais férteis da Faixa. A zona mede oficialmente 300m de largura por 55km de comprimento; mas, segundo a ONU, fazendeiros com terras localizadas a 1.000m da fronteira tem sido afastados a tiros pelo exército israelense. Aproximadamente 30-40% de toda a terra agricultável de Gaza está confinada nessa zona ‘neutra”. O setor agrícola de Gaza vive hoje situação de colapso total.

Distorções assim tão profundas na economia e no desejo da sociedade de Gaza – ainda que se recriem as melhores condições possíveis – exigem décadas para que sejam corrigidas. A economia depende hoje largamente dos empregos no setor público, das organizações de ajuda humanitária e das atividades do contrabando, o que comprova a crescente informalização da economia. Ainda antes do ataque israelense do ano passado, o Banco Mundial já constatava uma redistribuição de riqueza em Gaza, do setor privado formal, para os operadores do mercado negro.

Guardian.co.uk
Há inúmeros exemplos, mas um, particularmente ilustrativo, é o setor bancário. Poucos dias depois de Gaza ser declarada “entidade inimiga”, os bancos israelenses anunciaram a intenção de encerrar todas as transações diretas com bancos sediados em Gaza e só negociar com as instituições irmãs em Ramallah, na Cisjordânia. Nesses termos, os bancos sediados em Ramallah tornaram-se responsáveis pela transferência de moeda para as subsidiárias na Faixa de Gaza. Mas as regulações israelenses proíbem transferência de grandes quantidades de moeda sem prévia aprovação pelo ministério da Defesa e outras agências do aparelho de segurança israelense. Consequentemente, ao longo dos dois últimos anos, o setor bancário de Gaza enfrenta sérios problemas para atender às necessidades de dinheiro de seus clientes. Essa situação, po r sua vez, fez surgir um setor bancário informal que, hoje, é em larga medida controlado por gente ligada ao governo do Hamás, o que converteu o próprio Hamás em principal agente de intermediação das finanças em Gaza. Consequentemente, esses agentes de troca de moeda, que podem facilmente gerar capitais, são, de fato, mais fortes do que o sistema bancário formal, que não troca moeda nem gera capitais nem os faz girar.

Outro exemplo da informalidade econômica crescente em Gaza é a economia dos túneis, que começou a emergir há muito tempo, como primeira resposta ao bloqueio, e criou uma linha vital de abastecimento para uma população que vivia numa prisão a céu aberto. Segundo economistas locais, cerca de 2/3 da atividade econômica em Gaza é hoje orientada para o contrabando de bens que entram em (mas não saem). Mesmo essa última linha vital de abastecimento pode ser diminuída em breve, se o Egito – com a colaboração de engenheiros do governo dos EUA – concluir as obras de construção de uma muralha de aço, parte dela enterrada até o subsolo, ao longo da fronteira com Gaza, numa tentativa para conter o contrabando e o ir e vir de pessoas. Se a muralha chegar a ser completada, terá cerca de 8 km de comprimento e 15m de profundidade.

BBC
Os túneis, que Israel tolera em nome de manter inalteráveis as regras do bloqueio, são também importante fonte de renda para o governo do Hamás e as empresas associadas a ele, o que efetivamente enfraquece as modalidades tradicionais e formais de negócios e qualquer possibilidade de reconstruir um setor viável de comércio e negócios. Desse modo, o bloqueio de Gaza levou a um processo lento mas regular pelo qual se substituiu o setor formal de negócios por outro, quase totalmente marginal e paralelo, um mercado negro, que resiste e rejeita qualquer tipo de registros, regulação ou transparência e que, desgraçadamente, tem o máximo interesse em que as coisas mantenham-se exatamente como estão hoje.

Pelo menos duas novas classes econômicas emergiram em Gaza, fenômeno que teve antecedentes no período de Oslo: uma dessas classes tornou-se extraordinariamente rica, em boa parte por causa da economia de mercado negro dos túneis; a outra é constituída de alguns empregados do setor públicos, pagos (pela Autoridade Palestina na Cisjordânia) para não trabalhar (para o governo do Hamas). Assim, não apenas muitos trabalhadores de Gaza foram forçados a parar de produzir por ação de pressões externas; há hoje, além disso, uma nova categoria de pessoas recompensadas por não produzir – o que não deixa de ser espantosa ilustração-exemplo da realidade cada dia mais distorcida na qual a população de Gaza tem de sobreviver. Tudo isso levou a disparidades econômicas visíveis e monstruosas entre os que têm e os que não têm – como se constata no consumismo pervertido, em restaurantes e shopping-centers, nos quais só pisam os que têm.

Praticamente não há atividade produtiva na economia de Gaza, onde se vê uma espécie de consumismo do desespero entre pobres e ricos, mas que, no caso dos pobres, não supre sequer as necessidades mais básicas. Ainda não apareceram bilhões da ajuda internacional oferecida; e a imensa maioria dos gazenses vivem em situação de miséria absoluta. A combinação de um setor privado esgotado e economia estagnada levou a altíssimas taxas de desemprego (31,6% na cidade de Gaza; 44,1% em Khan Younis). Segundo a Câmara de Comércio Palestina, o desemprego real já se aproxima de 65%. Pelo menos 75% das 1,5 milhão de pessoas que vivem em Gaza dependem hoje de ajuda humanitária para suprir necessidades básicas de sobrevivência; há dez anos, eram 30%.

Guardian.co.uk
Relatórios da ONU mostram que o número de habitantes de Gaza que vivem hoje nas condições mais abjetas de pobreza – os que absolutamente não conseguem alimentar a família – triplicou e já atinge 300 mil, aproximadamente 20% da população.

O acesso a quantidades de comida suficientes para matar a fome continua a ser problema crítico, e parece estar tornando-se mais agudo depois de suspenso o ataque israelense contra Gaza, de setembro de 2009 até o início de janeiro de 2010: estatísticas mostram que Israel só permite que os palestinos recebam nunca mais (e às vezes menos) de 25% do que seria necessário para suprir sua carência alimentar; em vários momentos, essa porcentagem desceu a 16% do mínimo necessário para não morrer de fome ou por efeitos da desnutrição.

Nas duas últimas semanas de janeiro, esses índices desceram: entre 16 e 29 de janeiro, entraram em Gaza, em média, 24,5 caminhões de comida e suprimentos, por dia. Dado que seriam necessários 400 caminhões/dia para alimentar a população, Israel permitiu que chegasse a Gaza apenas 6% da comida necessária, nesse período de duas semanas.

Guardian.co.uk
São números obscenos. Gaza precisa de aproximadamente 240 mil caminhões de comida e suprimentos por ano para “suprir as necessidades da população e responder ao esforço de reconstrução”, segundo a Federação Palestina das Indústrias. Segundo a FAO e o programa World Food, “Há provas de que a população de Gaza está sendo mantida em plano mínimo, segundo padrões humanitários.” Em Gaza se registram os mais baixos índices da relação peso/idade – indicador de desnutrição crônica, já detectada entre crianças com menos de 5 anos, cuja incidência subiu de 8,2% em 1996, para 13,2% em 2006.

A agonia de Gaza não termina aí. Segundo dados da Anistia Internacional, 90-95% da água obtida do aqüífero em Gaza é “imprópria para beber”. Praticamente todos os depósitos subterrâneos de água em Gaza estão contaminados com nitratos, em quantidades muito superiores às admitidas pela OMS – em algumas áreas os números são seis vezes superiores ao padrão máximo admitido –, ou são águas salobras. Gaza já não tem nenhuma fonte regular de água limpa. Segundo relatório de um país doador, “Em nenhum outro lugar do mundo há tantas pessoas expostas a tão altos níveis de nitratos por períodos tão longos de tempo. Jamais se viu situação semelhante e não há estudos que nos ajudem a entender os danos que sofrerão essas pessoas expostas, por tanto tempo, ao envenenamento por nitrato” – o que é ainda mais perigoso no caso das crianças.

Guardian.co.uk
Segundo Desmond Travers, um dos co-autores do Relatório Goldstone, “se essas questões não forem discutidas e essa situação corrigida, em breve Gaza será diagnosticada como área não habitável, pelos padrões da Organização Mundial de Saúde”.
É possível que altos níveis de contaminação por nitratos tenham contribuído para alterações chocantes na taxa de mortalidade infantil entre palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

A taxa de mortalidade infantil, amplamente usada como indicador de saúde das populações, não se alterara desde 1990 até recentemente. Hoje dá sinais de aumento. Isso, porque as causas de mortes de crianças mudaram: de doenças infecciosas e diarréias, para prematuridade, baixo peso ao nascer e malformações congênitas. São sinais alarmantes (e discrepantes na Região), porque as taxas de mortalidade infantil estão em declínio em praticamente todo o mundo em desenvolvimento, inclusive, por exemplo, no Iraque.

BBC
O povo de Gaza sabe hoje que foi abandonado. Disseram-me alguns, na rua, que a única vez que chegaram a ter esperança de serem ajudados foi quando estavam sob bombardeio, porque então, pelo menos, o mundo tinha notícias de Gaza e talvez prestasse atenção. Gaza é hoje lugar onde a miséria é fantasiada de sobrevivência e caridade é bom negócio.

Contudo, apesar dos esforços de Israel e do ocidente para mostrar Gaza como paraíso de terroristas, a população resiste. Talvez resistam, sobretudo, contra a possibilidade de render-se, não a Israel, mas ao ódio. Há tanta gente que ainda fala de paz, de tentar resolver os conflitos… Seja como for, hoje, em Gaza, nada disso é motivo para otimismo. Tudo, em Gaza, é motivo para desespero.


Sara Roy é pesquisadora sênior do Centro de Estudos do Oriente Médio, da Universidade de Harvard. Seu novo livro, Hamas and Social Islam in Palestine (Princeton University Press, 2010) está no prelo. Esta reportagem foi publicada em fevereiro de 2010.

Gaza's Reality from Occupation 101 on Vimeo.


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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Hiroshima e Nagasaki: 65 Anos


Postado por: Universae

O texto abaixo foi publicado no Jornal do Brasil em Agosto de 2005 na coluna do grande e saudoso jornalista Fausto Wolff (1940 - 2008). É um texto pertinente, pois hoje se completam 65 anos do horror em Hiroshima (06/08/1945) e posteriormente em Nagasaki (09/08/1945) proporcionado pelos Estados Unidos da América.

"Estávamos parados na rua, incertos e temerosos, até que a casa à nossa frente começou a derreter e caiu aos nossos pés.
Nossa casa também se transformou numa montanha de poeira.
Um vento cruel alimentava as chamas.



Finalmente, compreendemos que não poderíamos ficar ali e nos dirigimos ao hospital.
Nossa casa fora destruída, estávamos feridos e precisávamos de socorro.
Além disso, eu, como médico, devia estar ao lado da minha equipe.
Só depois me dei conta da irracionalidade do meu pensamento.
Que bem eu poderia fazer, ferido como estava?



Começamos a caminhar, mas depois de 30 passos tive de parar.
Não tinha fôlego, meu coração disparara e minhas pernas deixaram de me agüentar. Senti uma sede terrível e pedi à minha mulher que me arranjasse água. Mas não havia água.



Eu estava nu e embora não sentisse vergonha fiquei triste por haver perdido o pudor. Fiquei sentado no chão.
Gradualmente as coisas começaram a entrar em foco.



Pessoas que mais pareciam sombras caminhavam como fantasmas.
Outras se moviam como espantalhos: braços bem abertos para impedir a fricção com a carne queimada.
Uma mulher nua carregava um bebê nu.
Pensei: Talvez eles estivessem tomando banho.


Quando vi alguns homens nus me dei conta de que, como ocorrera comigo, alguma coisa os privara de suas roupas.
Uma velha estava deitada ao meu lado. Seu rosto demonstrava que ela estava sofrendo muito mas não se queixava.
Na verdade, o silêncio era total.


As estradas estavam desertas com exceção dos mortos.
Alguns pareciam ter sido petrificados pela morte enquanto caminhavam.
Outros estavam achatados contra o pavimento como se uma gigantesca mão os houvesse esmagado. 


As montanhas distantes me pareceram mais próximas do que nunca. Como Hiroshima era pequena sem suas casas.
Tudo à minha volta estava carbonizado.


Dentro dos ônibus parados dezenas de corpos mortos em fogo, impossíveis de serem reconhecidos.
Vi reservatórios de água cheios de pessoas mortas até a borda. Pareciam ter sido cozinhadas em água fervente.


Num reservatório vi um homem bebendo água quente misturada com sangue.
O homem ao seu lado estava morto.
Os que podiam caminhavam vagarosa e silenciosamente.
Quando se lhes perguntava de onde haviam vindo, apontavam para a cidade.
Quando se lhes perguntavam para onde estavam indo apontavam para a distância. Todos nus, todos queimados, todos sangrando.


Um povo cujo espírito havia sido quebrado abandonava uma cidade em ruínas.
Simplesmente seguiam os que iam à frente.
Quando o dia acabou tive a impressão de que fora suspenso no tempo, pois não tínhamos nem relógios e nem calendários.''

Vocês acabaram de ler minha tradução do testemunho do Dr. Michihiko Hachiya, diretor do Hospital de Comunicações de Hiroshima, ferido no bombardeio de 6 de agosto de 1945, enquanto estava em sua casa, a uns 1.700 metros do epicentro da catástrofe.
Seu hospital estava mais próximo, a uns 200 metros.
Oitenta dos 190 médicos de Hiroshima morreram.
Sem comentários sobre o modo norte-americano de manter a paz mundial.
Logo que morreram os ingleses e o brasileiro, há pouco, o mundo pediu silêncio, como lamento pelas estúpidas mortes que certamente não teriam ocorrido se a Inglaterra não houvesse se transformado ironicamente numa colônia americana.
Hoje se completam 60 anos do bombardeio em Nagasaki, ocorrido em 09 de agosto, três dias depois do de Hiroshima e totalizando mais de 250 mil mortos nas duas cidades.
Quantos minutos de silêncio pediremos por essas pessoas e quantos pelos quase 50 mil seres humanos - velhos, mulheres e crianças - caçados e mortos no Iraque até agora? Como aconteceu com as cidades japonesas, Bagdá renascerá das cinzas mas jamais será a mesma.
Fausto Wolff
Jornal do Brasil, Agosto de 2005


Imagens documentadas pelo fotógrafo Yosuke Yamahata em 10 de Agosto de 1945 em Nagasaki.

Música: Vinicius de Moraes
Composição: João Apolinário / Gerson Conrradi
Cantor: Ney Matogrosso

The Hiroshima Rose

"Think of all the mute, telepathic children
Think of all the blind, wandering girls
Think of all the spoiled, changed women
Think of all the wounds as cold roses
But don't forget the rose, the rose
The rose of Hiroshima, hereditary rose
Radioactive, stupid, cripple rose
Rose with cirrosis, atomic anti-rose
No color, no smell, no rose, no anything at all"

Rosa de Hiroshima

"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada."

La Rosa de Hiroshima

"Piensa en las criaturas mudas, telepáticas
Piensa en las chiquillas ciegas e inexactas
Piensa en las mujeres rotas, alteradas
Piensa en las heridas como rosas cálidas
Pero nunca olvides la rosa, la rosa
La rosa de Hiroshima, rosa hereditaria
La rosa radiactiva, estúpida e inválida
La rosa con cirrosis, la anti-rosa atómica
Sin color, sin perfume, sin rosa, sin nada"

Luz é Amor
Amor é Luz
Mara

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